sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Domiciano Siqueira fala um pouco de seu trabalho a frente da Associação de Redução de Danos

        Realizado ontem, 24/11, na Câmara Municipal, o VII Seminário sobre Dependência Química trouxe para Uberlândia o Presidente da Associação de Redução de Danos. Domiciano Siqueira traz uma nova visão à questão do Consumo de Drogas, sem tabus, o palestrante amplia o olhar para todas as esferas da sociedade tentando entender, desta forma, porque a droga se tornou um problema social.

Entrevista:

Qual o peso da Moral na vida das pessoas no contexto do Consumo de Drogas, em todos os estágios, inclusive posterior à decisão de se tratar?

Domiciano: A impressão que eu tenho que foi por critérios morais que o uso de Drogas tornou-se um problema. Então ele é problema tanto pra quem vai começar a usar que vai se envolver com a ilegalidade, e é problema pra quem vai parar que de certa forma fica anônimo, “Narcóticos Anônimos”, “Alcoólicos Anônimos”. Isso são critérios morais, a influência deles na construção do problema da “Droga-adicção”, do uso de drogas é meramente moral, por isso eu acho que na minha fala eu tentei ao máximo esse recuo, estabelecer esse recurso ético. Se dependesse de moral agente continuaria fazendo lei, lei, lei e não é assim. Eu acho que isso não é desse momento da sociedade, historicamente a gente vem sendo escravizado por questões morais. Aqueles três períodos da humanidade, a Selvageria, a Barbárie e por último a civilização. É por excesso de critérios morais que hoje a gente ta numa sociedade civilizada, que, no entanto, usa os mesmos recursos da barbárie e da selvageria. Então, minha proposta é essa, se deve investir cada vez mais nos critérios éticos, que é a modificação do ser, do sujeito, à partir de uma reflexão, uma sensibilização, e aí sim ele começa a enxergar um mundo diferente, ou seja, eu também estou dizendo isso, cada vez menos regras externas e mais confiança no sujeito.

A internação compulsória fere os princípios de liberdade e cidadania? Como a cidadania pode ajudar no tratamento das pessoas que sofrem?

Domiciano: Olha, quando se fala de internação compulsória eu sou contra mesmo, acho que é seqüestro, um seqüestro cometido por agentes da legalidade, mas é seqüestro. É o investimento em programas de Redução de Danos como o consultório de rua, programas que permitam que essas pessoas candidatas a internação compulsória possam não chegar nesse estado, que elas tenham acesso a serviços, equipamentos e pessoas que colaborem com essa pessoa no sentido de não chegar numa situação tão dramática, é possível. Acho que cada vez mais tem gente nesta situação porque ta falhando nesta proposta de acolhimento, mas eu não falo acolhimento de encaminhar para serviços, o acolhimento na rua mesmo, essa que é a grande característica do programa de Redução de Danos é essa, tirar a pessoa do mundo que ela freqüenta para um outro mundo saudável, mas é levar o mundo saudável pra lá. Acho que quanto mais isso acontecer, menos problemas a gente vai ter que necessite de internação compulsória.

A autonomia está totalmente ligada à cidadania!

Exatamente, a cidadania é respeitar a dignidade.      
  
Qual a diferença quando se fala em liberação e legalização das drogas? Pra você, quais os benefícios da legalização?

Domiciano: Olha, liberação é um termo que é muito utilizado e é tendencioso. Ele tem a orientação na utilização do termo liberação é fazer o público imaginar que qualquer um vai vender, enfim, que “liberou geral”. Agora, legalização pressupõe regulamentação, e a idéia que a gente defende é essa, de que se legalize todas as drogas porque  uma vez legalizadas, se regulamentam o consumo, a produção, a venda e o consumo. Então, acho que a diferença é brutal, mas é muito sutil ainda, as pessoas usam a palavra Liberação, mas é Legalização com regulamentação.

Como você encara os trabalhos, publicitários e institucionais, de prevenção ao uso de drogas, realizados hoje? A prevenção é importante? Como?   

Olha a prevenção é importante, em todos os níveis em todas as áreas da atividade humana, mas não exatamente neste sentido que a gente usa, que é uma ilusão. A prevenção ao uso de drogas em uma sociedade que vai, independente da legalidade ou da ilegalidade, as pessoas vão usar. Então, eu acho que a prevenção no sentido de criar uma escola que toque nesse assunto desde a infância, que faça as crianças, os pais, os funcionários, que todos possam entender que as drogas fazem parte da sociedade, dos diversos grupos sociais, faz parte da história da humanidade, e que a gente tem que aprender a lidar com elas. Então a prevenção é no sentido de tornar o consumo de drogas, o mais irrelevante possível na vida de uma pessoa. Seja algo na área de prazer mesmo. Essa nova idéia na área de prevenção, que a qual eu concordo, mas agente dificilmente vê isso atualmente na mídia, por exemplo, a gente não vê. A mídia tem mais trabalhado com a idéia que representa a guerra às drogas e uma prevenção impossível. Que o outro faça aquilo que eu quero não aquilo que ele gosta.     

Domiciano Siqueira a Presidente da Associação de Redução de Danos e ministra palestras em todo o Brasil.

Confira mais no seu blog: http://domicianosiqueira.blogspot.com/   

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